Oncologia Pediátrica: a importância do acolhimento e humanização
O tratamento do câncer em crianças e adolescentes teve uma incrível evolução nas últimas décadas, permitindo probabilidade de cura em torno de 70% para muitas das doenças e em algumas delas os índices chegam a mais de 90%. Em virtude deste sucesso terapêutico, um dos focos principais tem sido a humanização do tratamento e a redução da sua toxicidade.
A criança em tratamento oncológico vivencia experiências dolorosas e desagradáveis, em ambiente estranho e muitas vezes agressivo, o que geralmente repercute no seu desenvolvimento psicossocial e intelectual, além de poder influenciar negativamente na aceitação do tratamento. A humanização do tratamento tem como objetivo principal desfazer esse cenário.
O tema humanização do tratamento em oncologia pediátrica, além de ser muito atual, tem assumido uma importância considerável dentro da terapêutica desses pacientes.
As medidas básicas de humanização incluem:
- Em ambiente hospitalar, recepcionar o paciente e sua família com carinho, atenção e cordialidade.
- Tratamento individualizado e especializado.
- Acompanhamento do cuidador durante a internação e nos procedimentos aos quais a criança for submetida.
- Adequada informação sobre diagnóstico, tratamento e prognóstico para os pais da criança.
- Sedação para realização de procedimentos dolorosos.
- Sala ou espaço de brincar dentro do centro de tratamento.
Entende-se por tratamento especializado aquele conduzido por médicos especialistas em cancerologia pediátrica em conjunto com equipe multiprofissional treinada para o atendimento pediátrico, o qual tem particularidades peculiares e distintas dos adultos.
O tratamento individualizado é aquele realizado em espaço físico específico para a criança, de preferência com características infantis para que a criança possa se distrair com um ambiente mais amistoso e alegre, como deve ser a infância.
Toda criança em tratamento de qualquer doença tem o direito de um acompanhante em suas internações e durante todos os procedimentos e consultas realizadas. Por este motivo o Hospital deve dispor de condições adequadas para essa prática, tais como alimentação, espaço, conforto e higiene.
Pais e pacientes têm o direito de serem informados sobre a doença e seu tratamento. Na prática clínica observa-se que quanto maior o grau de informação maior a aderência do paciente e seus familiares ao tratamento.
Quando se propõe tratamento humanizado para crianças e adolescentes, a escola tem papel primordial. O estudar, aprender, relacionar-se atuam diretamente na auto-estima da criança, permitindo sentimento de superação além de recreação e crescimento pessoal.
A escola dentro da unidade de internação é vista pelo paciente e seu familiar como um "oasis" dentro de um ambiente desagradável, de dor, de exílio, de restrições. Na escola a criança deixa, por algumas horas, de ser paciente e volta a ser criança.
Desde a década de 80 as crianças e adolescentes tratados no Hospital A.C.Camargo têm à sua disposição a escola hospitalar Schwester Heine. Além disso, todos os projetos relacionados à humanização do tratamento do departamento de Oncologia Pediátrica do Hospital A.C.Camargo fazem parte do Grupo AFETO (Apoio à Família Em Tratamento Oncológico), composto por uma equipe multiprofissional, cujas ações, além das descritas acima, ainda incluem:
- Brinquedo terapêutico: modalidade através da qual a criança entende sua doença e seu tratamento por meio de brinquedos que são confeccionados com essa finalidade. Com o brinquedo terapêutico a equipe de tratamento cria um elo de comunicação com a criança de uma forma que ela possa compreender de acordo sua etapa de desenvolvimento.
- Reuniões com pais e paciente: além de permitir a troca de experiências, é mais um canal para comunicação entre a equipe multidisciplinar com o paciente e família.
- Acampamentos terapêuticos: os acampamentos para crianças e adolescentes em tratamento, ou já tratados de câncer, têm efeito direto na qualidade de vida destes pacientes:
- Permite a libertação da super-proteção imposta pelo hospital e pela família.
- Permite a socialização com outros pacientes em etapas diferentes do tratamento, propiciando trocas de experiências.
- Permite aproximação com a equipe de tratamento fora do ambiente hospitalar.
- Permite a recreação, diversão e entretenimento, o que proporciona um reabastecimento de forças para prosseguir o tratamento.
Breve histório da Escola Especializada Schwester Heine:
Com a proposta de evitar que os pacientes da Oncologia Pediátrica perdessem aulas e provas por não terem acesso ao convívio escolar em razão do tratamento, a fundadora do Hospital A.C.Camargo, Carmen Prudente, criou ao lado da pedagoga Maria Genoveva Vello a primeira unidade de ensino dentro de um hospital oncológico em 15 de outubro de 1987. Carmen afirmava que as crianças conseguiam vencer a doença, mas não conseguiriam vencer na vida sem educação e a Escola veio para mudar esta história.
Nascia, portanto, a Escola Especializada Schwester Heine, que recebeu este nome em homenagem à enfermeira alemã, Heine, vinda da Segunda Guerra Mundial para trabalhar no então Hospital do Câncer. Schwester vem de Krankenschwester, que significa enfermeira no idioma alemão.
O Departamento de Oncologia Pediátrica organizou oito acampamentos, cujos benefícios terapêuticos têm sido demonstrados por muitas publicações em revistas médicas especializadas.
Todas as medidas de humanização do tratamento de crianças e adolescentes com câncer ajudam a acolher os pacientes e sua família provendo o suporte necessário para o enfrentamento da doença, influenciado diretamente no sucesso do tratamento.
Fonte: http://www.accamargo.org.br/saude-prevencao/criancas/oncologia-pediatrica-a-importancia-do-acolhimento-e-humanizacao--/22/
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